A
INFLUÊNCIA DA CULTURA SUMÉRIA NA ESCRITA DA BÍBLIA (PARTE 2)
VISÃO
COSMOGÔNICA ANTIGA
Por milênios a forma do nosso planeta
sempre foi um mistério. Diversos filósofos do passado passaram anos das suas
vidas tentando decifrar como seria o formato da Terra. Primeiramente, tinha-se
a ideia de que a terra era circular e plana e que o sol e as estrelas giravam
em torno de uma terra fixa. Já por volta de 525 a.C, Anaximenes, diante de
diversas observações, pelo fato das estrelas da parte Norte do céu contornarem
apenas um círculo, disse que o sol e as estrelas não se põem abaixo da terra,
como se acreditava até então e que ao invés disso elas faziam uma curva em
determinado ângulo e que nós não veríamos por serem ocultadas pela parte mais alta
da Terra na direção Norte. (observe na figura mais abaixo). Os leitores
conseguem perceber o grau de dificuldade que os estudiosos do passado tinham??
Perceba que Anaximenes foi inteligente ao perceber os movimentos dos corpos
celestes e afirmar que estes não giravam em torno da terra, porém errou na sua
conclusão. Ele apenas havia tentado achar uma alternativa para encaixar nas
suas observações.
O formato da Terra e sua movimentação correta só foi desvendada
entre 1500 e 1600 diante dos trabalhos de Copérnico e Kepler. Giordano Bruno,
um filósofo da mesma época, foi mais além e dizia que as estrelas que víamos no
céu “abrigaria” outros sistemas planetários, assim como o nosso Sol. Giordano
Bruno foi queimado em praça pública pela igreja católica e a Inquisição, no ano
de 1600, em Roma, por conta de suas ideias. Sabemos hoje, após o lançamento da
sonda Kepler, da existência dos diversos sistemas planetários em volta das
estrelas, que não podemos observar em decorrência da distância.
O formato da Terra por Anaximenes |
Em diversos debates Ciência X Religião é
possível observar constantemente religiosos afirmando que a bíblia, por ter
sido escrita por homens inspirados por Deus, já trazia o planeta Terra em seu
formato correto. Mais de mil anos de estudos por parte de filósofos e
astrônomos seria em vão então, porque a bíblia já mostrava corretamente o
formato da terra, bastando lê-la. Bem, então vamos ler a bíblia, analisar a
cultura suméria e demonstrar aqui a chamada “Visão Cosmogônica Antiga”.
Os antigos contos sumérios também foram
inspiração para os escritos do Gênesis com relação a criação da terra. Antes de
aprofundarmos na correlação entre os contos e o Gênesis é necessário entender
primeiro como os povos da época achavam que era o nosso planeta. Vamos aqui
abandonar todo o conhecimento científico adquirido por nós com relação à visão
de nosso planeta e vamos nos adentrar na cabeça de uma pessoa que viveu há mais
de 3.000 anos a.C. Observe ou imagine a terra de uma montanha alta ou observe toda
uma costa litoral. Como você acha que seria a terra? Não me venha com essa de
que o povo achava que a terra era quadrada, isso é mito, observe atentamente...
bom, para mim e para os povos da época a terra pareceria circular plana, isso
mesmo, a terra seria para eles análoga a uma pizza, na qual o céu seria como
uma tampa ou como eles mesmo definiam, uma “abóbada celeste” e todo o resto
seria água, inclusive as águas sempre existiram e a terra teria sido criada no
meio das águas. Conseguiu compreender essa visão de planeta terra e “universo
aquático” atentamente? Se conseguiu, então vamos aos contos e ao Gênesis.
Um dos contos sumérios encontrados pelos
arqueólogos sobre a criação do nosso planeta é o chamado “Enuma Elish”. Durante
todo o texto há algumas confusões entre os deuses. No decorrer do mesmo, o deus
Marduk derrota a deusa Tiamat, deusa das águas primordiais, e a partir do corpo
da mesma cria a terra. Segue abaixo apenas alguns trechos, no qual faremos a
correlação com o Gênesis:
“Ele,
as águas doces, o iniciador da criação, e Tiamat, as águas salgadas, e útero do
universo, quando não existiam os deuses...quando os deuses não tinham nome,
natureza ou futuro, então a partir de
Apsu e Tiamat, nas águas dele e dela, foram criados os deuses, e para dentro das
águas precipitou-se a terra...
...Ele
voltou para onde Tiamat jazia acorrentada, ele abriu as pernas da deusa e
espatifou seu crânio (pois a clava não tinha misericórdia), ele cortou as
artérias e o sangue dela jorrou na direção do Vento Norte para os confins
desconhecidos do Mundo Físico.
Quando
os deuses viram tudo isto, eles riram alto e mandaram presentes a Marduk. Eles
mandaram ao jovem herói tributos agradecidos.
O jovem deus descansou. Ele olhou para o corpo amplo de
Tiamat, ponderando sobre como usá-lo, o que criar da carcassa morta. Ele abriu
o corpo de Tiamat em dois, com a
primeira metade, a superior, ele construiu o arco dos céus, ele empurrou para baixo uma barra e fez uma
sentinela para as águas, de forma que estas jamais pudessem escapar.”
Olhando desatentamente talvez não
percebamos qualquer correlação com o Gênesis, mas vamos então ao Gênesis,
lembrando-se de ter sempre em mente a visão dos povos da época com relação à Terra
e o “universo aquático” e bastante atenção aos detalhes.
"No
princípio criou Deus os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia; e havia
trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas."
[Gênesis 1:1-2]
"E
disse Deus: haja um firmamento no MEIO
das águas, e haja separação entre
águas e águas. Fez, pois, Deus o firmamento, e separou as águas que estavam DEBAIXO do firmamento das que estavam POR
CIMA do firmamento. E assim foi. Chamou
Deus ao firmamento céu. E foi a tarde e a manhã, o dia segundo. E disse
Deus: Ajuntem-se num só lugar as águas
que estão DEBAIXO do céu, e apareça o elemento seco. E assim foi. Chamou
Deus ao elemento seco terra, e ao ajuntamento das águas mares. E viu Deus que
isso era bom." [Gênesis 1:6-10].
Ficou claro? Vamos esclarecer
detalhadamente. Percebe-se que no Enuma Elish Marduk partiu o corpo de Tiamat,
a deusa das águas, em dois. Com a parte superior ele construiu o arco dos céus,
ou seja, seria analogicamente falando à tampa da pizza, a abóbada celeste que
cobria a terra circular plana. Com a outra metade ele fez o círculo terrestre,
fazendo uma sentinela para que as águas não transpassassem. No Gênesis, Deus
criou o céu ou firmamento para separar
as águas que estavam encima do céu das águas que estavam debaixo do céu,
isso mesmo, lembre-se da visão do povo da época, a abóbada celeste foi criada
como uma separação das águas, “haja
separação entre águas e águas”. Lembre-se que Tiamat era a deusa das águas
e no início só havia Apsu e Tiamat, os deuses das águas, enquanto que no
Gênesis no princípio Deus pairava sobre
a face das águas. Posteriormente Deus cria a parte de baixo: “Ajuntem-se num só lugar as águas que estão
debaixo do céu, e apareça o elemento seco.”
Em Provérbios também
aparece este trecho: “Quando ele
preparava os céus, aí estava eu; quando TRAÇAVA
UM CÍRCULO sobre a face do abismo, quando ESTABELECIA O FIRMAMENTO EM CIMA, quando se firmavam as fontes do
abismo, quando ele fixava ao mar o seu
termo, para que AS ÁGUAS não traspassassem o seu mando, quando traçava os
fundamentos da terra” Provérbios [8:22-29]. Consegue perceber? No Enuma
Elish foi preciso “sentinelas” para que as águas não transpassassem e na bíblia
era apenas uma ordem divina... Enuma
Elish: “e fez uma sentinela para as águas,
de forma que estas jamais pudessem escapar” Bíblia: “quando ele fixava ao mar o seu termo, para que AS ÁGUAS não
traspassassem o seu mando”.
Basta ler com bastante atenção, tendo
sempre em mente como que os povos da época achavam que era a Terra, para
perceber as semelhanças. Em outro trecho da bíblia, mais a frente, ainda
percebe-se essa visão do “caos aquático” ou “universo aquático” na qual está
inserida a Terra. Segue: "...pela
palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus, e a terra, QUE FOI TIRADA DA ÁGUA E NO MEIO DA ÁGUA
SUBSISTE. " 2 Pedro [3:5-6].
Depois de toda essa comparação, fica
claro que os Sumérios acreditavam que a terra teria sido criada no meio das
águas, em uma forma circular plana e que o céu fecharia encima como uma
abóbada. Essa cultura teria influenciado os Hebreus, que também deviam
acreditar na mesma hipótese. No livro bíblico de Jó, inclusive, ao relatar os
feitos de Deus, ele diz que a abóbada celeste seria como um espelho fundido,
fazendo acreditar que o céu seria uma estrutura sólida por cima da terra. No
livro de Eclesiastes também há uma passagem que diz que o sol nasce e se põe, correndo
de volta para novamente nascer, ou seja, passando por baixo da terra circular
plana.
Este site também demonstra claramente
como os homens antigos tinham essa visão: http://www.webartigos.com/artigos/a-influencia-do-mito-cosmogonico-aquatico-nos-relatos-da-criacao-do-mundo-de-genesis-apontamentos-sobre-a-visao-cosmologica-dos-antigos-hebreus/14360/
A
CRIAÇÃO DO HOMEM
A
cultura dos sumérios foi tão influente na época, que os hebreus também
aproveitaram a ideia da criação humana através do barro à imagem e semelhança
de Deus (ou de deuses). Em alguns contos e poemas sumérios podem ser vistas
abordagens da criação humana. Segue abaixo alguns trechos de parte do
Atra-Hasis, outro de um poema Sumério e outro da Epopeia de Gilgamesh:
"...
que se degolasse um deus e todos os demais deuses se purificassem no banho de
seu sangue. E que a sua carne e o seu sangue, Nintu (ou Mami), a deusa-mãe, misturasse um pouco de argila, de maneira a
que deus e homem estivessem misturados, constituindo assim uma só carne e
um só espírito."
“-Ó
meu filho, levanta-te da cama, faz o que é sábio:
Modela
servos de deuses, possam eles produzir os seus ‘duplos’ (?)
Ele
responde-lhe:
"Ó
minha mãe, a criatura cujo nome tu pronunciaste existe,
Ata-lhe
à imagem dos deuses.
Mistura o coração da
argila que há sobre o abismo,
Os
bons e magníficos modeladores hão-de amassar a argila,
Tu
trarás os membros à existência”.
“A
deusa então concebeu em sua mente uma
imagem cuja
essência era a mesma de
Anu, o deus do firmamento. Ela mergulhou as
mãos na água e tomou um
pedaço de barro;
ela o deixou cair na selva,
e assim foi criado o
nobre Enkidu”.
Na próxima postagem...Parte 3...falarei em geral sobre os Hebreus...a hipótese da escrita e/ou mudança do início da bíblia tardiamente, durante o cativeiro babilônico e a cópia da história do nascimento de Moisés.
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