domingo, 6 de setembro de 2015



Olá pessoal! Abordarei agora no blog sobre a Evolução Humana de uma forma mais detalhada, mostrando como surgiram os primeiros primatas, a evolução dos primatas de uma forma geral e a dispersão geográfica. Precisarei dividir o tema em várias partes, porque voltaremos no tempo há 64 milhões de anos atrás, fazendo um resumo na evolução dos primatas até chegar ao presente. Futuramente no blog abordarei sobre os mamíferos da Era dos Dinossauros e também sobre os répteis mamaliformes de antes da Era dos Dinossauros, mas no momento vou abordar a partir da extinção em massa do Cretáceo.
           
EVOLUÇÃO HUMANA (PARTE 1)

A TRAGÉDIA DO CRETÁCEO


                        Para entendermos como surgiram os primeiros “proto-primatas” temos que voltar para a Era do Cretáceo, na qual ainda viviam os dinossauros. Na época dos dinossauros os mamíferos eram muito pequenos, parecidos com os atuais roedores ou com musaranhos. A estatura pequena se deu por conta da seleção natural, os grandes mamíferos não conseguiam competir com os dinossauros, já os pequenos conseguiam passar adiante sua descendência. Eles provavelmente possuíam hábitos noturnos, para evitar os dinos e eram insetívoros. Um exemplo de mamífero da Era Cretácea é o Eomaia Scansoria (ver figuras 1 e 2), que possuía apenas 10 cm de comprimento.
Figura 1- Fóssil do Eomaia Scansoria, de 125 milhões de anos
Figura 2- Concepção artística do Eomaia Scansoria

                             
                   Porém, a partir da extinção dos dinossauros, os mamíferos tiveram campo livre para se diversificar, aumentar em tamanho e se espalhar pelo planeta em diversas formas. A extinção dos dinossauros se deu por conta de um grande impacto de um meteorito que atingiu o planeta Terra por volta de 64 milhões de anos atrás, causando uma enorme cratera, que fica localizada na península de Yucatán, no México, com 160 km de largura e 48 de profundidade.
               Imediatamente após o impacto, muitas formas de vidas foram totalmente dizimadas, algumas provavelmente ficaram cegas e surdas, sendo realmente uma cena de terror, com eventos de tsunamis acontecendo por toda a Terra. Decorrido um tempo após o impacto algumas espécies de dinossauros provavelmente devam ter sobrevivido, mas a Terra deveria ser um local totalmente hostil, os dinossauros que restaram provavelmente morreram de fome e sede, eram criaturas de grande porte e necessitavam de muitos recursos. Porém os seres menores, entre eles os mamíferos da época, conseguiram sobreviver e tiveram campo livre, sem grande competição, para poder se diversificar. Pequenas aves, que são descendentes diretos dos dinossauros, também conseguiram sobreviver. Alguns fósseis de mamíferos foram encontrados nessa transição da Era Cretácea para a Paleocênica, espécies dos chamados Purgatorius, que viviam na América do Norte e ainda se pareciam muito com os atuais roedores.

OS PROTO-PRIMATAS

           
            Os primeiros primatas surgiram por volta de 63 milhões de anos atrás, na Era Paleocênica, quando algumas adaptações nas patas já são perceptíveis, diferenciando um pouco daquele visual dos atuais roedores. A família extinta (registro fóssil) dos Plesiadapiformes (ver figuras 3, 4 e 5) é considerada a primeira da linhagem dos primatas. Estes proto-primatas viveram onde hoje é a América do Norte e a Europa, lembrando que no Paleoceno o norte da Europa ainda estava ligada à América do Norte, apesar da América do Sul já ter se separado um pouco da África

Figura 3 - Plesiadapis


Figura 4 - Concepção artística do Plesiadapis



Figura 5- Análise do "proto-primata" Plesiadapis




OS PRIMATAS DE FOCINHO (STREPSIRRHINNI)

Ancestral em comum com os Lêmures e seus parentes

            É chegado o momento de abordarmos a primeira diferenciação entre os primeiros primatas até então, a grande divisão em dois grupos, os Strepsirrhinni e os Haplorhinni. Traduzindo, Strepsirrhinni que dizer “narina fendida”, ou seja, são os primatas que carregaram a característica de alguns outros grupos de mamíferos, de possuir o “focinho”, ou seja, a narina úmida, ligada ao lábio superior. Os Haplorhinni quer dizer “narina simples”, com os orifícios, sem as membranas do focinho. Portanto, antes da divisão, nosso ancestral em comum com os dois grupos provavelmente deveria se parecer muito com o Plesiadapis, vivendo na América do Norte, entre 63 e 60 milhões de anos atrás, na Era Paleocênica. Primeiramente, irei abordar sobre o grupo dos primatas de focinho, que são nossos parentes mais antigos, mostrar os registros fósseis e as formas vivas atuais, como os Lêmures de Madagascar, os Gálagos e o Loris.
            Durante o período Eoceno, que vai de 55 há 36 milhões de anos, os primatas de focinho se espalharam pela América do Norte e Europa, continentes ainda ligados ao Norte por algumas pontes de terra no começo do Eoceno. Algumas espécies fósseis mostram como eram esses primatas de focinho americanos, como o Smilodectes gracilis, do grupo dos Adapiformes Notharctidae (ver figuras 6 e 7). 

Figura 6- Smilodectes gracilis em exibição no museu

Figura 7- Concepção artística do Smilodectes
            Após o isolamento entre os dois continentes, as espécies americanas foram totalmente extintas sem deixar descendentes, já as espécies europeias obtiveram mais sucesso nas que migaram para a África. As que ficaram na Europa também foram extintas posteriormente. Na Europa existiam espécies como o Darwinius masillae (ver figuras 8 e 9). Algumas dessas espécies europeias migraram para a África, dando origem às família dos atuais Lêmures (ver figura 10), dos Gálagos (ver figura 11) e dos Loris (ver figura 12). Os Lêmures posteriormente também ocuparam a ilha de Madagascar e por muito tempo viveram tanto no continente africano quanto na ilha de Madagascar.
            Naquela época a ilha de Madagascar já era separada do continente africano e daí pergunta-se: como os Lêmures chegaram na ilha?? A hipótese mais aceita é que alguns membros de uma espécie conseguiram atravessar pelas chamadas “balsas de vegetação”, que são como ilhas flutuantes, vegetação de mangues que se desprendem do continente chegando até outro continente ou ilha, algumas podendo chegar a ter até 1 hectare. Essa hipótese é a mais aceita porque este fato já foi observado com algumas espécies atuais, bem como aconteceu por outras vezes como veremos mais na frente quando abordarei sobre os macacos do velho mundo e os macacos do novo mundo. A ideia parece até absurda, mas quando você pensa em uma escala temporal de alguns milhões de anos, é bem provável que isso aconteça, seja com membros de alguma espécie ou até mesmo apenas um exemplar fêmea de uma espécie que esteja prenha.
            A espécie que chegou a Madagascar teve campo livre e isolado pra diversificar e dar origem a todas as espécies de Lêmures existentes hoje no planeta. As espécies de Lêmures que ficaram na África foram extintas posteriormente, provavelmente por conta da competição. Atualmente os Lêmures estão em processo de extinção também na ilha de Madagascar, infelizmente, desde que os humanos chegaram a ilha.

Figura 8- Fóssil do Darwinius masillae
Figura 9- Concepção artística do Darwinius masillae
Figura 10- Lêmure de Madagascar
Figura 11- Gálago
Figura 12- O Lóris, único primata venenoso


OS PRIMATAS HAPLORRINOS

Ancestral em comum com os Társios

            Como fora explicado anteriormente, Haplorhinni quer dizer “narina simples”, que foi a primeira diferenciação no grupo dos primatas, pois este grupo não compartilha do focinho comum em diversas espécies de mamíferos. O grupo dos Primatas Haplorrinos abrange os Társideos e os Símios, inclusive os humanos, além de algumas formas já extintas.
            Partindo novamente do nosso ancestral em comum exato com os Primatas de Focinho, provavelmente muito parecido com o Plesiadapis, por volta de 63 milhões de anos atrás, seguiremos em frente agora pelo outro lado da ramificação.
             Com o passar do tempo, entrando na Era Eocênica, que vai de 55 há 36 milhões de anos, um grupo de primatas começou a se diferenciar por não ter mais as membranas do focinho. Este grupo de primatas, já extinto, é conhecido como Omomídeos (ver figura 13 e 14), com registros fósseis encontrados na América do Norte, Europa e Ásia. O continente americano e europeu ainda possuía pontes de terra ao Norte, até o início da Era Eocênica e os Omomídeos asiáticos chegaram através do que hoje é o Estreito de Bering.
           Os Omomídeos americanos e europeus foram os primeiros a entrar em extinção, já os asiáticos, antes da extinção, deram origem aos Társios (ver figura 15), que vivem até hoje nas florestas asiáticas desde a Era Eocênica e se especializaram ainda mais na vida noturna. Os Gálagos e os Lóris, primatas de focinho das figuras 11 e 12, também, por convergência evolutiva, desenvolveram olhos grandes para o hábito noturno, mas os Társios conseguiram olhos ainda maiores. Os olhos dos Társios cresceram muito através da seleção natural para captar o máximo possível de fótons à noite.
               O nosso ancestral em comum com os Társios provavelmente era um ancestral dos Omomídeos, que viveu entre 58 e 55 milhões de anos atrás e poderia se parecer muito com o Archicebus achilles (ver figuras 16, 17 e 18), que possuía características dos Símios e dos Társios. Este ancestral em comum poderia ser norte-americano ou asiático.

Figura 13- Crânio do Necrolemur, uma espécie de Omomídeo
Figura 14- Concepção artística do Necrolemur
Figura 15- Társio
Figura 16- Fóssil de Archicebus achilles
Figura 17- Entendendo o fóssil
Figura 18- Concepção artística do Archicebus achilles

Gráfico explicativo da divisão

                         A figura acima exemplifica a divisão entre os primatas de focinho e os de narina simples. A esquerda temos a escala temporal, os sinais de cruz representa as formas extintas.
                         Encerramos aqui a parte 1. Na próxima parte inciarei sobre os Anthropoidea, abordando os macacos do novo mundo e do velho mundo.

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